Desde o berço da Antiguidade, quando o jogo e a adivinhação se entrelaçam, até a Idade Média, na qual também se ancora a simbologia dos naipes e das figuras, das obras do Renascimento italiano ao movimento ocultista francês do século XIX, a história é convocada a explicar o surgimento do tarô.
E dessa investigação nasce o livro “A História do Tarô”, escrito pela historiadora parisiense Isabelle Nadolny, que também é taróloga. Trata-se de um livro raro. “Posso dizer, sem exagero algum, que não há paralelo em publicações desse nível no Brasil, seja em livros sobre tarô ou em obras que contêm a história e o simbolismo desse oráculo”, comenta Adilson Silva Ramachandra, editor de aquisições do grupo Pensamento.
Segundo ele, “entre outras descobertas, a autora revela neste livro único as mais antigas tiragens e interpretações do oráculo, com tarôs esplêndidos, alguns reproduzidos aqui pela primeira vez, provenientes do acervo da Biblioteca Nacional da França, de coleções particulares e públicas”.
Mas, afinal, onde realmente surgiu o tarô? “Ele foi inventado, por assim dizer, no início do século XIV, quando trunfos (ou arcanos maiores) foram acrescentados às 56 cartas dos quatro arcanos menores no norte da Itália, popularizando-se em três cidades-Estados: Bolonha, Ferrara e Milão. A ordem e a sequência dos trunfos eram ligeiramente diferentes em cada uma delas, mas a versão sa do jogo, criada no século XVII, segue a ordem e o estilo desenvolvidos em Milão. Este é o baralho que, onde quer que fosse impresso, viria a ser conhecido mais tarde como ‘tarô de Marselha’”, observa o editor.
Contudo, diz ele, “até hoje não sabemos a origem real da criação dos arcanos maiores, apesar de haver paralelos com imagens que constam em obras de alquimia do século XIII em diante. Entretanto, é possível rastrear a provável origem dos arcanos menores”.
Ramachandra ressalta que, “ao contrário das ideias comuns no mundo do esoterismo, o baralho de 78 cartas – dividido em 22 arcanos maiores, contados de 1 a 21, mais o arcano zero, representado pela carta conhecida como ‘O Louco’ ou ‘O Tolo’; o curinga; e as 56 cartas dos arcanos menores, representadas por quatro naipes numerados de ás a 10, mais suas respectivas ‘cartas da corte’ – não surgiu no ‘início dos tempos’, não foi inventado para fins iniciáticos ou divinatórios, tampouco é o ancestral do jogo de cartas comum, assim como não é egípcio, nem hebreu, e muito menos originário da Atlântida”.
O editor salienta que os ancestrais dos modernos baralhos de tarô surgiram na China e seguiram pela Rota da Seda até o mundo islâmico, onde os baralhos assumiram uma forma muito diferente daquela produzida na China.
“O Museu Topkapi, em Istambul, na Turquia, possui três baralhos parciais de cartas islâmicas do século XV, denominadas ‘cartas mamelucas’, em homenagem ao Império Islâmico dominante da época. Esse baralho é composto por quatro naipes numerados de 1 a 10, com três cartas da corte: rei, vice-rei e segundo vice-rei”, comenta o editor.
Oráculo não tinha propósito divinatório
Em relação aos arcanos maiores, a grande maioria dos pesquisadores tem fortes convicções de que eles foram criados no norte da Itália. “Podemos ver isso nas cartas do antigo baralho Tarô Visconti-Sforza”, explica o editor Adilson Silva Ramachandra.
O tarô, em seu início pelo menos, não tinha um propósito divinatório, como tantos outros baralhos criados na época, sendo utilizado como um jogo de salão.
O Mainzer Kartenlosbuth (Livro de Cartomancia de Mainz, datado de 1505 ou 1510) seria o primeiro livro a associar previsões a imagens de cartas. Segundo Léo Chioda, editor do site www.cafetarot.com.br e colaborador especialista em tarô do site Personare, “esse livro alemão não foi o único a trazer possíveis indicações preditivas das cartas. Existiram outros. E o que já havia escrito poderia simplesmente descrever certas imagens, pois não havia ainda uma prática de adivinhação consolidada nem registrada em livros”. (AED)
Pesquisa histórica foi primorosa
O que torna “História do Tarô” a obra de maior relevância já editada no Brasil é, segundo Léo Chioda, o modo como a autora organizou as informações, situando o leitor em relação ao surgimento dos baralhos, dos termos associados e dos principais títulos e pensadores europeus sobre o tarô”.
Para Adilson Silva Ramachandra, o que mais o surpreendeu além da qualidade gráfica, que é superior à da edição original, “foi o rigor histórico e a magnífica contextualização iconográfica utilizada para explicar a evolução do tarô e seu simbolismo através dos tempos”. (AED)
Lançamento
“A História do Tarô”.
Isabelle Nadolny.
Editora Pensamento
296 páginas
R$ 97,93